Juventude à espera do fundo que promete futuro

A juventude moçambicana tem saído às ruas, não por gosto, mas por necessidade. As manifestações recentes são o grito de quem já cansou de promessas adiadas, de quem se recusa a ser estatística do desemprego e da marginalização. Nessa realidade, o Fundo de Desenvolvimento Local aparece como uma tábua de salvação. Mas, atenção: uma tábua não salva se for entregue apenas a uns poucos escolhidos.

Não podemos permitir que este fundo se transforme em bandeira exclusiva de partidos políticos, usado como isco eleitoral para amarrar consciências jovens. A juventude não é propriedade de nenhum partido; é o coração pulsante da nação. Reduzir o fundo a moeda de troca seria amputar o futuro do país em plena infância.

Há ainda um outro perigo, sorrateiro como sombra: os comissionistas — ou, como o povo já aprendeu a chamar, os nhonguistas. São eles que se sentam nas esquinas do poder, prontos para vender facilidades, cobrar percentagens, abrir e fechar portas conforme a espessura do envelope. Se o Fundo cair nas mãos desses atravessadores, não chegará à juventude, mas aos bolsos já cheios dos que vivem da fome e do sonho alheio.

Seria tragédia dupla: transformar a esperança num mercado negro, e o futuro num negócio de ocasião. Pois nada mata mais rápido que a sensação de que o jogo está viciado, que as cartas já foram baralhadas contra nós.

O fundo só terá sentido se for transparente, universal e justo. Se for capaz de regar todas as sementes — e não apenas as que crescem no quintal do partido no poder. Só terá valor se for acompanhado de formação, fiscalização e responsabilização.

A juventude moçambicana não pede esmola. Pede oportunidade. Pede ferramentas para transformar suor em riqueza, energia em progresso, criatividade em soluções. Negar isso é empurrar milhares para as ruas novamente, para gritar aquilo que já devia estar escrito nas políticas públicas: ninguém pode monopolizar a esperança de um povo.

Que o Fundo de Desenvolvimento Local não seja um banquete de poucos, mas uma mesa ampla onde a juventude inteira possa sentar-se. Porque se negarmos o pão, a juventude encontrará o grito. E quando a juventude grita, nenhum muro político consegue resistir.

Momade Selemane Iahaia

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